Por:Raíssa Moreira
Lima Mendes*
O livro está dividido
em cinco capítulos e possui elucidativa introdução de Giuseppe Cocco, de onde
se extrai que os primeiros quatro capítulos foram escritos por Lazzarato, em
sua maioria escritos no âmbito do debate francês sobre reestruturação
produtiva, crise do fordismo e transformações do trabalho. Ressalte-se a
participação de Negrio no primeiro e mais importante destes. Já no quinto
capítulo, Lazzarato reivindica a linha teórica a respeito do trabalho imaterial
e o diálogo com outros autores italianos sobre a referida temática.
O primeiro capítulo,
Trabalho imaterial e subjetividade, publicado em 1991, traz a subjetividade
como carro chefe do trabalho intelectual, cujo ítem Na direção da hegemonia do
trabalho imaterial, advindo como variante do modelo pós-fordista, de onde se
extrai que a integração do trabalho imaterial no industrial e terciário
torna-se a principal fonte de produção e atravessa os ciclos de produção
definidos precedentemente. O item, Intelectualidade de massa e nova
subjetividade, os autores afirmam que quando o trabalho imaterial é reconhecido
como base fundamental da produção, este processo não investe somente a produção
mas a forma inteira do ciclo “reprodução e consumo”. O trabalho imaterial não
se reproduz na forma de exploração, mas na forma de reprodução da
subjetividade.
Já nos itens, Ecos
filosóficos da nova definição de trabalho e Novos antagonismos na sociedade
pós-industrial, Intelectualidade, poder e comunicação, os autores apontam que a
transformação das condições gerais de produção, que agora incluem a
participação ativa dos sujeitos, consideram o General Intellect como capital fico sujeitado à produção, e que
toma como base objetiva a sociedade inteira e sua ordem, determinando uma
modificação das formas de poder. E conclui que o intelectual está nesta fase,
em completa adequação aos objetivos da libertação: novo sujeito, poder
constituinte, potência do comunismo.
No segundo capítulo, O
ciclo da produção imaterial, publicado em 1993, Lazaratto tenta apontar
características da fase pós-tayloristas que ainda não foram apontadas,
confrontando-as com a produção da grande indústria e dos serviços. Deste
confronto, extrai a afirmação de que seria o trabalho imaterial fonte de
inovação contínua das formas e condições da comunicação, e, portanto, do trabalho
e do consumo. Produzindo acima de tudo uma relação social de inovação, produção
e consumo e diante desta reprodução sua atividade tem valor econômico, onde o
trabalho não produz apenas mercadorias, mas acima de tudo a relação de capital.
Assim sendo, aponta que a “matéria-prima” do trabalho imaterial é a
subjetividade e o “ambiente ecológico” no qual esta subjetividade vive e se
reproduz e ainda, que os trabalhadores imateriais (segundo os autores, aqueles
que trabalham na publicidade, moda, marketing, televisão, informática, etc.)
satisfariam uma demanda do consumidor e ao mesmo tempo a constituiriam.
No item, O modelo
estético, o autor se pergunta qual o papel do trabalho imaterial na capacidade
de consumo e na comunicação. E no item seguinte, As diferenças específicas do
ciclo do trabalho imaterial, aponta que o público tende a tornar-se o próprio
modelo do consumidor (público/cliente), e que sçao as formas de vida que
constituem a fonte de inovação. Restando ao econômico a possibilidade de gerir
e regular a atividade do trabalho imaterial e de criar dispositivos de controle
da tecnologia de informação e comunicação e de seus processos organizativos.
No item Criação e
trabalho imaterial, o autor coloca em discussão o modelo de criação e difusão
do trabelho intelectual e a superação do conceito de criatividade como
expressão de “individualidade” ou como patrimônio das classes “superiores”,
analisando dois modos de demonstrar a relação entre trabalho imaterial e
sociedade, o de Simmel e a criatividade do trabalho intelectual e o de Bachtin
com a teoria da criatividade social.
Já o terceiro capítulo,
sobre Estratégias do empreendedor político, de 1994, neste, o autor aborda as
formas de governabilidade da nova configuração capitalista, destacando que na
figura de Berlusconi na se poderia distinguir o empreendedor, o patrão da mídia
e o homem político.
Em Benetton e os fluxos,
reporta-se à experiência empresarial italiana constituída longe da mídia, sobre
controle dos fluxos de trabalho, consumo, comunicação e desejo, a qual denomina
de “anomalia” empresarial, a Benetton.
No item sobre Os fluxos
de trabalho, a respeito disso, ainda tomando a Benetton como referência, propõe
a tese de que se não se vê mais a fábrica não é porque desapareceu, mas porque
se socializou, e neste sentido tornou-se imaterial, de uma imaterialidade que
continua assim mesmo a produzir relações sociais, valores, lucros
A respeito do item Redes
de comercialização, Lazzarato explica a organização daquela empresa segundo o
método franchising, que preza a
gestão social e política das redes através da “marca”, mais do que de vínculos
diretos, disciplinares ou administrativos. Sobre o item Fluxo de desejo, de
consumo e produção da subjetividade, aqui, o autor afirma que na empresa
pós-fordista a produtividade da publicidade encontra a sua razão de ser
econômica não tanto na venda, mas na “produção de subjetividade”, sendo que a
publicidade não serviria somente para informar sobre o mercado e sim para
construí-lo, interagindo com o consumidor não só quanto às suas necessidades,
mas, sobretudo aos seus desejos, sendo necessário conhecer e solicitar a
ideologia, estilo de vida e concepção de mundo do consumidor.
O empresário político e
o Estado, item onde o autor discute a televisão e a afirmação eleitoral de
Berlusconi que para o autor é um fluxo de imagens e de sons diretamente conexo
com as redes produtivas. Sendo que esta nova máquina teria funcionado como
dispositivo de captura das novas forças e de suas formas de expressão, para
reconduzi-las ao Estado.
O quarto capítulo,
denominado O “trabalho”: um novo debate para velhas alternativas, sem data
indicada de publicação, Lazzarato debruça-se sobre a crítica a Marx, supondo
que em Marx o conceito de “produção” é um conceito metaeconômico, e que a “descoberta”
científica de Marx diz respeito ao conceito de “trabalho vivo” (sujeito vivente
que é presente no tempo e não no espaço) e de “força de trabalho”, não
limitando-se ao “trabalho”. Supõe ainda o autor que não existe razão para
identificar o capitalismo com a produção industrial e a exploração com o “pôr
ao trabalho” a classe operária. Por último, tenta demonstrar que se existe um
“economicismo” em Marx isto deve ser superado como uma radicalização da
categoria de “trabalho vivo” como categoria ontológica e constitutiva. Neste
capítulo, nos aportes para a crítica com quem o autor vai debater encontram-se
Habernas, Arendt, Krahl, entre outros.
E por fim, o quinto e
último capítulo Trabalho autônomo, produção por meio de linguagem e General
Intellect, o autor tenta determinar o “lugar comum”, pressuposto a que as teses
apresentadas no capitulo tendem. No item O trabalho autônomo, referindo-se às
pesquisas sobre trabalho autônomo de Sérgio Bologna, o autor discorre sobre os
debates a respeito do mesmo e das mudanças substanciais entre o trabalho
autônomo pré e pós-fordista. Assim, para o autor, a nova qualidade do trabalho
autônomo possui uma grande capacidade de cooperação, de gestão, de inovação
organizativa e comercial e possui capacidade “empreendedora”.
Já o ítem Produção de
mercadorias por meio de linguagem – traz a idéia de dimensão “biopolítica”, que
seria a dimensão coletiva, social, intelectual do trabalho pós-fordista. Onde a
subsunção da comunidade na lógica capitalista é a subsunção de elementos
lingüísticos, políticos, relacionais, sexuais que a definem, sendo este
processo complementarmente visível e realizado na economia da informação, onde
é posto ao trabalho aquilo que é mais comum aos homens, para o autor, a
linguagem e a comunicação.
No item específico O
General Intellect, - “intelectualidade de massa”, os paradoxos que determina e
como é enfrentada nos trabalhos de Paolo Virno, discutindo a pragmática do “ato
de pôr-em-prática”, que, segundo Lazzarato, não é privilégio exclusivo da
língua. Todos os outros componentes semióticos, todo o produzir de codificações
naturais e maquinais concorrem, em seu ver, para isso. Diz ainda que a abertura
a outros regimes de semiotização seria um problema político. Em vias de conclusão,
aponta que o avanço da pesquisa a respeito do trabalho imaterial se determinará
por uma primeira antecipação de uma possível recomposição/singularização da
nova natureza das relações sociais.
Lazzarato,
Maurizzo e Negri, Antônio: Trabalho imaterial: formas de vida e produção de
subjetividade, Rio de Janeiro - RJ, 2001, DP&A editora.
*Raíssa Moreira Lima Mendes é doutoranda em Ciências Sociais - Sociologia pelo programa de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará - PPGCS-UFPA. Mestre em Ciências Sociais (Sociologia e Antropologia) pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais PPGCSoc-UFMA (2011). Pós-graduada em Direito Público pela Universidade Gama Filho - RJ (2009). Advogada, graduada em Direito pela Faculdade Santa Terezinha - Cest (2007). Desenvolve pesquisas sobre desenvolvimento na Amazônia brasileira, populações tradicionais, patrimônio cultural, artesanato tradicional, carpintaria naval, ambiente, territórios emergentes e direitos culturais. Tem como foco de sua pesquisa os usos sociais da natureza e gestão de recursos naturais.
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