terça-feira, 6 de novembro de 2012

Trabalho imaterial: formas de vida e produção de subjetividade




Por:Raíssa Moreira Lima Mendes*

O livro está dividido em cinco capítulos e possui elucidativa introdução de Giuseppe Cocco, de onde se extrai que os primeiros quatro capítulos foram escritos por Lazzarato, em sua maioria escritos no âmbito do debate francês sobre reestruturação produtiva, crise do fordismo e transformações do trabalho. Ressalte-se a participação de Negrio no primeiro e mais importante destes. Já no quinto capítulo, Lazzarato reivindica a linha teórica a respeito do trabalho imaterial e o diálogo com outros autores italianos sobre a referida temática.
O primeiro capítulo, Trabalho imaterial e subjetividade, publicado em 1991, traz a subjetividade como carro chefe do trabalho intelectual, cujo ítem Na direção da hegemonia do trabalho imaterial, advindo como variante do modelo pós-fordista, de onde se extrai que a integração do trabalho imaterial no industrial e terciário torna-se a principal fonte de produção e atravessa os ciclos de produção definidos precedentemente. O item, Intelectualidade de massa e nova subjetividade, os autores afirmam que quando o trabalho imaterial é reconhecido como base fundamental da produção, este processo não investe somente a produção mas a forma inteira do ciclo “reprodução e consumo”. O trabalho imaterial não se reproduz na forma de exploração, mas na forma de reprodução da subjetividade.
Já nos itens, Ecos filosóficos da nova definição de trabalho e Novos antagonismos na sociedade pós-industrial, Intelectualidade, poder e comunicação, os autores apontam que a transformação das condições gerais de produção, que agora incluem a participação ativa dos sujeitos, consideram o General Intellect como capital fico sujeitado à produção, e que toma como base objetiva a sociedade inteira e sua ordem, determinando uma modificação das formas de poder. E conclui que o intelectual está nesta fase, em completa adequação aos objetivos da libertação: novo sujeito, poder constituinte, potência do comunismo.
No segundo capítulo, O ciclo da produção imaterial, publicado em 1993, Lazaratto tenta apontar características da fase pós-tayloristas que ainda não foram apontadas, confrontando-as com a produção da grande indústria e dos serviços. Deste confronto, extrai a afirmação de que seria o trabalho imaterial fonte de inovação contínua das formas e condições da comunicação, e, portanto, do trabalho e do consumo. Produzindo acima de tudo uma relação social de inovação, produção e consumo e diante desta reprodução sua atividade tem valor econômico, onde o trabalho não produz apenas mercadorias, mas acima de tudo a relação de capital. Assim sendo, aponta que a “matéria-prima” do trabalho imaterial é a subjetividade e o “ambiente ecológico” no qual esta subjetividade vive e se reproduz e ainda, que os trabalhadores imateriais (segundo os autores, aqueles que trabalham na publicidade, moda, marketing, televisão, informática, etc.) satisfariam uma demanda do consumidor e ao mesmo tempo a constituiriam.
No item, O modelo estético, o autor se pergunta qual o papel do trabalho imaterial na capacidade de consumo e na comunicação. E no item seguinte, As diferenças específicas do ciclo do trabalho imaterial, aponta que o público tende a tornar-se o próprio modelo do consumidor (público/cliente), e que sçao as formas de vida que constituem a fonte de inovação. Restando ao econômico a possibilidade de gerir e regular a atividade do trabalho imaterial e de criar dispositivos de controle da tecnologia de informação e comunicação e de seus processos organizativos.
No item Criação e trabalho imaterial, o autor coloca em discussão o modelo de criação e difusão do trabelho intelectual e a superação do conceito de criatividade como expressão de “individualidade” ou como patrimônio das classes “superiores”, analisando dois modos de demonstrar a relação entre trabalho imaterial e sociedade, o de Simmel e a criatividade do trabalho intelectual e o de Bachtin com a teoria da criatividade social.
Já o terceiro capítulo, sobre Estratégias do empreendedor político, de 1994, neste, o autor aborda as formas de governabilidade da nova configuração capitalista, destacando que na figura de Berlusconi na se poderia distinguir o empreendedor, o patrão da mídia e o homem político.
Em Benetton e os fluxos, reporta-se à experiência empresarial italiana constituída longe da mídia, sobre controle dos fluxos de trabalho, consumo, comunicação e desejo, a qual denomina de “anomalia” empresarial, a Benetton.
No item sobre Os fluxos de trabalho, a respeito disso, ainda tomando a Benetton como referência, propõe a tese de que se não se vê mais a fábrica não é porque desapareceu, mas porque se socializou, e neste sentido tornou-se imaterial, de uma imaterialidade que continua assim mesmo a produzir relações sociais, valores, lucros
A respeito do item Redes de comercialização, Lazzarato explica a organização daquela empresa segundo o método franchising, que preza a gestão social e política das redes através da “marca”, mais do que de vínculos diretos, disciplinares ou administrativos. Sobre o item Fluxo de desejo, de consumo e produção da subjetividade, aqui, o autor afirma que na empresa pós-fordista a produtividade da publicidade encontra a sua razão de ser econômica não tanto na venda, mas na “produção de subjetividade”, sendo que a publicidade não serviria somente para informar sobre o mercado e sim para construí-lo, interagindo com o consumidor não só quanto às suas necessidades, mas, sobretudo aos seus desejos, sendo necessário conhecer e solicitar a ideologia, estilo de vida e concepção de mundo do consumidor.
O empresário político e o Estado, item onde o autor discute a televisão e a afirmação eleitoral de Berlusconi que para o autor é um fluxo de imagens e de sons diretamente conexo com as redes produtivas. Sendo que esta nova máquina teria funcionado como dispositivo de captura das novas forças e de suas formas de expressão, para reconduzi-las ao Estado.
O quarto capítulo, denominado O “trabalho”: um novo debate para velhas alternativas, sem data indicada de publicação, Lazzarato debruça-se sobre a crítica a Marx, supondo que em Marx o conceito de “produção” é um conceito metaeconômico, e que a “descoberta” científica de Marx diz respeito ao conceito de “trabalho vivo” (sujeito vivente que é presente no tempo e não no espaço) e de “força de trabalho”, não limitando-se ao “trabalho”. Supõe ainda o autor que não existe razão para identificar o capitalismo com a produção industrial e a exploração com o “pôr ao trabalho” a classe operária. Por último, tenta demonstrar que se existe um “economicismo” em Marx isto deve ser superado como uma radicalização da categoria de “trabalho vivo” como categoria ontológica e constitutiva. Neste capítulo, nos aportes para a crítica com quem o autor vai debater encontram-se Habernas, Arendt, Krahl, entre outros.
E por fim, o quinto e último capítulo Trabalho autônomo, produção por meio de linguagem e General Intellect, o autor tenta determinar o “lugar comum”, pressuposto a que as teses apresentadas no capitulo tendem. No item O trabalho autônomo, referindo-se às pesquisas sobre trabalho autônomo de Sérgio Bologna, o autor discorre sobre os debates a respeito do mesmo e das mudanças substanciais entre o trabalho autônomo pré e pós-fordista. Assim, para o autor, a nova qualidade do trabalho autônomo possui uma grande capacidade de cooperação, de gestão, de inovação organizativa e comercial e possui capacidade “empreendedora”.
Já o ítem Produção de mercadorias por meio de linguagem – traz a idéia de dimensão “biopolítica”, que seria a dimensão coletiva, social, intelectual do trabalho pós-fordista. Onde a subsunção da comunidade na lógica capitalista é a subsunção de elementos lingüísticos, políticos, relacionais, sexuais que a definem, sendo este processo complementarmente visível e realizado na economia da informação, onde é posto ao trabalho aquilo que é mais comum aos homens, para o autor, a linguagem e a comunicação.
No item específico O General Intellect, - “intelectualidade de massa”, os paradoxos que determina e como é enfrentada nos trabalhos de Paolo Virno, discutindo a pragmática do “ato de pôr-em-prática”, que, segundo Lazzarato, não é privilégio exclusivo da língua. Todos os outros componentes semióticos, todo o produzir de codificações naturais e maquinais concorrem, em seu ver, para isso. Diz ainda que a abertura a outros regimes de semiotização seria um problema político. Em vias de conclusão, aponta que o avanço da pesquisa a respeito do trabalho imaterial se determinará por uma primeira antecipação de uma possível recomposição/singularização da nova natureza das relações sociais.


Lazzarato, Maurizzo e Negri, Antônio: Trabalho imaterial: formas de vida e produção de subjetividade, Rio de Janeiro - RJ, 2001, DP&A editora.

*Raíssa Moreira Lima Mendes é doutoranda em Ciências Sociais - Sociologia pelo programa de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará - PPGCS-UFPA. Mestre em Ciências Sociais (Sociologia e Antropologia) pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais PPGCSoc-UFMA (2011). Pós-graduada em Direito Público pela Universidade Gama Filho - RJ (2009). Advogada, graduada em Direito pela Faculdade Santa Terezinha - Cest (2007). Desenvolve pesquisas sobre desenvolvimento na Amazônia brasileira, populações tradicionais, patrimônio cultural, artesanato tradicional, carpintaria naval, ambiente, territórios emergentes e direitos culturais. Tem como foco de sua pesquisa os usos sociais da natureza e gestão de recursos naturais.



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