Por: Jesus Marmanillo Pereira
Nesses
tempos de corrida no mercado de trabalho, emerge a nova família brasileira.
Aquela que, assim como a globalização do mercado, rompe com as distâncias e se
espalha por territórios longínquos. Creio que estejamos nos tempos em que a
sobrevivência é um principio maior que todas as instituições sociais
construídas historicamente. Mas!.... de que tipo de sobrevivência estamos
falando ? Como estamos conseguindo
sobreviver, nos quatro cantos desse imenso país?
Não
posso responder por todos, mas imagino que o papel da “lembrança” nunca teve
tanta importância nesses tempos de corrida pela sobrevivência. Esse aspecto é
um dos únicos que me garante que a família não seja apenas uma empresa de
capacitação que, todos os anos, lança no mercado milhares de jovens por esse
mundo a fora. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o professor Mauro
Guilherme Koury* ressalta que o isolamento dos homens, durante a fase mais produtiva
de suas carreiras profissionais, está associada à busca do reconhecimento
profissional e conquista do mercado de trabalho.
Nessa
odisséia contemporânea, o Ulisses contemporâneo trilha seu caminho solitário
lutando contra uma mitologia interna, repleta de monstros, medos e desejo de
gloria, de forma que os heróis parecem ter sido convertidos em produtores,
lutando contra um obstáculo maior caracterizado numa idéia de necessidade e
sobrevivência. Mas uma vez, é necessário questionar esse tipo de sobrevivência
e que necessidades ela representa? [1]
Sobre
esse assunto, Abraham Maslow discorre que o ser humano possuiria um
comportamento explicado de acordo com cinco necessidades relacionadas ao
atendimento de: 1)necessidades básicas ou fisiológicas, 2)segurança, 3) sociais
ou de associação, 4) Status ou Auto-estima, e 5) Auto-realização. No senso comum cotidiano, percebo inúmeras
tentativas de valorização extrema das necessidades básicas, do Status e
auto-realização, buscando por meio dessas, compensar as necessidades de
associação e segurança. Talvez isso seja um indicativo da importância das
“lembranças” no preenchimento de lacunas sociais fundamentais para a construção
social do homem.
Não
por acaso, a associação que pode ser considerada o embrião de instituições
importantes como: família, sindicatos, igrejas etc. tende a ser desvalorizada
no caminho egoíco por um objetivo final caracterizando numa auto-realização
desequilibrada e compensatória cuja dimensão social parece ter sido reduzida às
“lembranças”.
Nessa
busca pela auto-realização, Mauro Guilherme Koury percebe que a ideia que paira
a sociabilidade contemporânea é a de que “os outros só contam quando úteis a determinado projeto”. Nesse
sentido, pensamento utilitarista tão criticado por Emile Durkheim parece
afrontar e convidar um conjunto de sociólogos para se debruçar sobre os novos
tipos de relações e de instituições que são produzidas.
Mais que apontar a sobreposição de uma lógica econômica
que penetra as bases organizacionais e culturais de uma sociedade, um desafio é
buscar e criticar os mecanismos de reprodução desse pensamento utilitarista que
distribui pessoas como mercadorias, mundo a fora. Será possível sobrevivência
do indivíduo a custa do sacrifício de instituições tão valiosas para a humanidade?
Para onde se quer ir, caminhando solitariamente?
Tal situação me faz recordar do problema do
transporte urbano na cidade de São Luís. Uma solução quase unanime comentada
entre muitos usuários era a compra individualiza do carro próprio para escapar
do desconforto característico dos ônibus cheios, com pouca ventilação e
segurança. O resultado dessas ações individualizadas foi que nos últimos sete
anos a frota subiu de
168.900 para 300.063[2],
deixando as ruas intrafegáveis tanto para veículos coletivos quanto
individuais. Esse é apenas um exemplo, entre outros tantos, em que as pessoas buscam soluções individualizadas que reafirmam determinados status ou imagem de auto-realização.
Talvez, mais que em qualquer outro momento,
necessitamos reanimar grupos estudantis, associações,clubes de mães, conselhos populares e
quaisquer iniciativas coletivas que possam de alguma maneira, combater as
inúmeras manifestações utilitaristas e individualistas no âmbito da educação,
da família, direitos sociais, laços de amizade e na cultura. Talvez precisemos
falar pelo passado e pelas futuras gerações tão obscurecidos pelas necessidades
imediatas.
Para terminar a postagem, deixo uma sugestão, bem lembrada, de meu amigo Roniel Sampaio Silva:
Para terminar a postagem, deixo uma sugestão, bem lembrada, de meu amigo Roniel Sampaio Silva:
[1]
Se fosse
responder isso, nesse exato momento, diria que a energia que acabou de faltar
seria uma necessidade básica para a nossa comunicação por meio desse texto.
[2] http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2012/10/frota-de-veiculos-em-sao-luis-ultrapassa-300-mil-veiculos.html
*http://manguevirtual.blogspot.com.br/2012/10/entrevistado-professor-mauro-koury.html
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