sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ouro de tolo

 Por: Jesus Marmanillo Pereira

Nesses tempos de corrida no mercado de trabalho, emerge a nova família brasileira. Aquela que, assim como a globalização do mercado, rompe com as distâncias e se espalha por territórios longínquos. Creio que estejamos nos tempos em que a sobrevivência é um principio maior que todas as instituições sociais construídas historicamente. Mas!.... de que tipo de sobrevivência estamos falando ?  Como estamos conseguindo sobreviver, nos quatro cantos desse imenso país?

Não posso responder por todos, mas imagino que o papel da “lembrança” nunca teve tanta importância nesses tempos de corrida pela sobrevivência. Esse aspecto é um dos únicos que me garante que a família não seja apenas uma empresa de capacitação que, todos os anos, lança no mercado milhares de jovens por esse mundo a fora. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o professor Mauro Guilherme Koury* ressalta  que o isolamento dos homens, durante a fase mais produtiva de suas carreiras profissionais, está associada à busca do reconhecimento profissional e conquista do mercado de trabalho.

Nessa odisséia contemporânea, o Ulisses contemporâneo trilha seu caminho solitário lutando contra uma mitologia interna, repleta de monstros, medos e desejo de gloria, de forma que os heróis parecem ter sido convertidos em produtores, lutando contra um obstáculo maior caracterizado numa idéia de necessidade e sobrevivência. Mas uma vez, é necessário questionar esse tipo de sobrevivência e que necessidades ela representa? [1]

Sobre esse assunto, Abraham Maslow discorre que o ser humano possuiria um comportamento explicado de acordo com cinco necessidades relacionadas ao atendimento de: 1)necessidades básicas ou fisiológicas, 2)segurança, 3) sociais ou de associação, 4) Status ou Auto-estima, e 5) Auto-realização.  No senso comum cotidiano, percebo inúmeras tentativas de valorização extrema das necessidades básicas, do Status e auto-realização, buscando por meio dessas, compensar as necessidades de associação e segurança. Talvez isso seja um indicativo da importância das “lembranças” no preenchimento de lacunas sociais fundamentais para a construção social do homem.



Não por acaso, a associação que pode ser considerada o embrião de instituições importantes como: família, sindicatos, igrejas etc. tende a ser desvalorizada no caminho egoíco por um objetivo final caracterizando numa auto-realização desequilibrada e compensatória cuja dimensão social parece ter sido reduzida às “lembranças”.
  
Nessa busca pela auto-realização, Mauro Guilherme Koury percebe que a ideia que paira a sociabilidade contemporânea é a de que “os outros só contam quando úteis a determinado projeto”. Nesse sentido, pensamento utilitarista tão criticado por Emile Durkheim parece afrontar e convidar um conjunto de sociólogos para se debruçar sobre os novos tipos de relações e de instituições que são produzidas.

Mais que apontar a sobreposição de uma lógica econômica que penetra as bases organizacionais e culturais de uma sociedade, um desafio é buscar e criticar os mecanismos de reprodução desse pensamento utilitarista que distribui pessoas como mercadorias, mundo a fora. Será possível sobrevivência do indivíduo a custa do sacrifício de instituições tão valiosas para a humanidade? Para onde se quer ir, caminhando solitariamente?


Tal situação me faz recordar do problema do transporte urbano na cidade de São Luís. Uma solução quase unanime comentada entre muitos usuários era a compra individualiza do carro próprio para escapar do desconforto característico dos ônibus cheios, com pouca ventilação e segurança. O resultado dessas ações individualizadas foi que nos últimos sete anos a frota subiu de 168.900 para 300.063[2], deixando as ruas intrafegáveis tanto para veículos coletivos quanto individuais. Esse é apenas um exemplo, entre outros tantos, em que as pessoas buscam soluções individualizadas que reafirmam determinados status ou imagem de auto-realização.

Talvez, mais que em qualquer outro momento, necessitamos reanimar grupos estudantis, associações,clubes de mães, conselhos populares e quaisquer iniciativas coletivas que possam de alguma maneira, combater as inúmeras manifestações utilitaristas e individualistas no âmbito da educação, da família, direitos sociais, laços de amizade e na cultura. Talvez precisemos falar pelo passado e pelas futuras gerações tão obscurecidos pelas necessidades imediatas.

Para terminar a postagem, deixo uma sugestão, bem lembrada, de meu amigo Roniel Sampaio Silva:










[1] Se fosse responder isso, nesse exato momento, diria que a energia que acabou de faltar seria uma necessidade básica para a nossa comunicação por meio desse texto.
[2] http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2012/10/frota-de-veiculos-em-sao-luis-ultrapassa-300-mil-veiculos.html
*http://manguevirtual.blogspot.com.br/2012/10/entrevistado-professor-mauro-koury.html

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