Verdadeiros gênios ou propagadores da moda do improdutivo!

Eu não estudei nadinha! Eu não escrevi nada! Essas parecem ser frases comuns entre alguns aprovados em concursos, vestibulares, pós-graduações e também concluintes dos vários níveis da carreira acadêmica.

Nesse discurso, percebo que a Universidade Federal do Maranhão vem se tornando um verdadeiro espaço de concentração “gênios” por metro quadrado. São pessoas que passam em 4 etapas de testes, sem sequer triscar em algum texto ou livro, que escrevem textos de 50 páginas em apenas 2 dias.

Tal situação pode ser interpretada com base em vários bibliografias, por uma perspectiva que associa desenvolvimento a trabalho, nessa há uma serie de autores que explicam a produção social, política e discursiva do desenvolvimento por meio de processos históricos, que de certa forma, naturalizam a idéia geral e bastante verificável no senso comum, de que o trabalho gera progresso.

Embora se possa discordar dessa associação, não se pode negar que todo o sistema educativo oficial é pautado numa idéia de progresso verificável por meio de testes, em outras palavras: é necessário estudar para conquistar etapas. As provas e seletivos além de cumprirem a função de verificação, podem ser entendidos como delineadores de diferentes status sociais, já que, pelo sistema educativo oficial é possível distinguir e distribuir pessoas em diferentes postos de acordo com o nível de escolaridade. Grosso modo é nesse ambiente onde são definidos hierarquicamente, auxiliares, técnicos, os bacharéis mestres etc..

Diante dessa observação convém perguntar, quem são esses “gênios” que conseguem ocupar postos, sem preparação e de uma forma praticamente milagrosa? Sabe-se que desde a década de 1960 a sociologia reflexiva de Bourdieu tem desconstruído a idéia de dons e aptidões naturais e buscado demonstrar que sempre existem condições sociais de reprodução, o que significa, de forma curta e grossa, que não existem “gênios” ou formulas milagrosas e si agentes com condições sociais, culturais, econômicas mais favoráveis que outros.

Bem se esses gênios não possuem existência nem vez, na perspectiva Bourdiana. Resta-nos pensá-lo por um viés, mais clássico, que legitima e naturaliza diferenças que, no final das contas, são consideradas dons e aptidões naturais de cada individuam, ou seja, trata-se de uma lógica “perversa” já que traz consigo um tipo de classificação muito simples que pode ser resumida nas idéias de capazes e não capazes e/ou os que mandam e os que obedecem. Em outras palavras, é um tipo de educação que legitima diferenças sociais em vez de explica-lás.

Considerando que os gênios não brotaram dos corredores, nem da noite pro dia, creio que o “Eu não estudei nadinha! Eu não escrevi nadinha!” é bem mais próximo de um tipo de estratégia tradicional de legitimação de aptidões naturais, que de explicação racional das condições de produção intelectual. Se tomarmos como exemplo um aluno que estudou nos melhores colégios e no último ano muda-se para uma escola pública com fragilidade de recursos, poderíamos considerar que ele está no mesmo nível dos outros? Se observássemos alunos graduados assistindo aula de reforço na graduação como preparação para o mestrado e pedindo orientação aos professores, poderíamos dizer que eles estão nas mesmas condições de competição de outros que estudaram sozinhos?

Não posso afirma que seja um tipo de estratégia perversa de naturalizar algum tipo de heroicização intelectual, que seja uma forma auto-promoção diante de uma estima acadêmica baixa, mas enfim, seja o que for, lhes garanto que não é o melhor caminho. Nesse sentido ,me resta apenas, desejar bom estudo à todos e reafirmar que não existem gênios que brotam da noite pro dia.

Por: Jesus Marmanillo

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