segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Educação e Luta de Classes

por: Luciana Pereira da Silva


Do ponto de vista da base material, o modo feudal de produção que configura a Europa dos séculos X a XIII caracteriza-se por uma economia essencialmente agrária, assentada no trabalho do servo que retira da terra seu sustento e o do senhor feudal. Este constitui o elemento fundamental da classe dominante por deter a posse das terras e dos instrumentos essenciais à produção.

Tal forma de exploração necessita, para perpetuar-se, de uma justificativa, que é fornecida pela Igreja Cató1ica. Esta, já no período escravista, “trai os ideais confusos mas rebeldes dos explorados de Israel, que encarnou em seus primórdios” p.87, conforme afirma o autor. Sob o Feudalismo, aparece como a grande Senhora Feudal, possuidora de vastas extensões de terra e detentora do monopólio da produção intelectual. Tomando ao mundo grego a filosofia de Platão e Aristóteles, dela se apropria para construir a Escolástica, teologia filosófica com que justifica a ordem feudal vigente. Há uma interessante semelhança do “mundo das idéias” de Platão com o Paraíso cristão e da “causa primeira” de Aristóteles com a forma de um Deus, que é causa primeira de todas as coisas, no ideário escolástico.

De forma que a filosofia antiga, devidamente apropriada pela Igreja Feudal, permite a representação de um sistema social baseado na existência de Deus como explicativo, não só dos fenômenos naturais, mas até mesmo das injustiças sociais. Ainda no dizer de Aníbal:

Enquanto o servo sofria sob seu senhor, o cristianismo proclamava que eles eram iguais diante de Deus. Descoberta maravilhosa que respeitava o status quo terreno, enquanto não chegava o dia de alterá-lo, mas no céu (...) p.87

As mudanças previstas com o paradigma científico e tecnológico, expresso nas teses da sociedade pós-industrial ou pós-moderna, ao tornar disponível a informação para todos, apresenta o conhecimento como capaz de eliminar as desigualdades e diferenças entre os homens, levando a todos a tão almejada vida de bem estar social. Nesse ambiente da sociedade do conhecimento, acredita-se ainda que a intelectualização do trabalho pode gerar um processo de união entre o pensar e o fazer, que torna possível a humanização do trabalho, perdida com a industrialização.

O conceito educação como uma função espontânea da sociedade, mediante a qual as novas gerações se assemelham às mais velhas, era adequado para a comunidade primitiva, mas deixou de sê-lo à medida que esta foi lentamente se transformando numa sociedade dividida em classes. Nesse sentido, o autor diz que nem tudo o que a educação inculcava nos educandos tinha por finalidade o bem comum, a não ser que esse bem comum servisse como uma premissa para manter e reforçar as classes dominantes.

Naqueles tempos, embora a educação passasse por grande evolução (da criação de escolas monasteriais às catedralícias, da escola ‘primária’ à criação das universidades), o acesso à escola era caro demais para a maioria e... “Enquanto a burguesia mais rica triunfava nas universidades, a pequena burguesia invadia as escolas primárias” p. 104. Quanto ao artesão, poderia ascender a ‘mestre’ e daí a comerciante. “Cada artesão trabalhava, portanto, com a esperança de vir a se converter um dia em explorador de outros artesãos” p. 105.

A cultura renascentista descansava de fato sobre as finanças dos banqueiros, [...] “O Renascimento se propôs formar homens de negócios que também fossem cidadãos cultos e diplomatas hábeis. Uma língua universal, um tipo uniforme de cultura, paz perpétua, eis as aspirações de Erasmo (1467 - 1536) e do seu tempo. p.110

Os ideais da Contra-reforma foram esmeradamente desempenhados pelos Jesuítas,

A educação jesuítica só usava os recursos pedagógicos como um instrumento de domínio. Especializados, sobretudo no ensino médio, os jesuítas conseguiram de tal forma realizar os seus propósitos que, desde os fins do século XVI até os começos do século XVIII, ninguém se atreveu a disputar à Companhia de Jesus a hegemonia pedagógica que a Igreja havia reconquistado” [...] “De fato, afirmamos mais uma vez, os jesuítas nunca se importaram com a educação da pequena burguesia ou com a das chamadas camadas ‘populares. p122).

Esta é uma análise e compreensão dos sistemas simbólicos da educação da sociedade, envolvendo sua localização e temporalidade, não visando nenhuma intenção de dominar territórios e tipos certos ou errados de educação e sim analisa-los.

O autor Aníbal Ponce coloca que é através do estudo da sociedade dividida em classes que encontramos a principal característica da educação: A Popularização.

O autor fala da Educação nas comunidades primitivas onde a luta das classes menos favorecidas já era muito grande. Mesmo não sendo confiada, o que era ensinado eram coisas necessárias para a vida (Coletividade pequena. O que era produzido em comum era repartido com todos). Nas sociedades primitivas o processo educativo é informal, visando à sobrevivência do individuo e da tribo. O homem difere dos demais primatas pela capacidade de criar e conservar e ainda transmitir sua cultura. Pode-se compreender que esta cultura é um sistema mais ou menos integrado de padrões de comportamentos, característicos de determinada sociedade. A criança nasce dentro de uma cultura e essa por sua vez, define a maneira da criança perceber o meio ambiente e a ele responder.

Assim o processo educativo torna-se meio de perpetuar padrões culturais que são âncoras de segurança que o grupo possa dar ao indivíduo. Podemos então concluir que a luta começou lá, nos primitivos, onde havia guerreiros.Pois só no período paleolítico encontramos provas da capacidade de reflexão humana, onde as idéias são os veículos de transmissão de comunicação através do tempo.

Para Aníbal, numa sociedade dividida em classes todas têm seus costumes particulares, mas, contemporaneamente, recente-se do processo e aculturação por parte dos dominantes. A tradição dos ensinamentos continua depois da conquista grega. Começa a formação dos escribas (sacerdotes). Segundo o texto, a psicologia platônica, a natureza do mundo é racional, e os escritos de Platão tratam do problema política e educação como quem quisesse retratar a relação dos pobres e ricos, onde ele traça o seu estado ideal, o reino do espírito e da razão. Os Filósofos desta época entram em chocante contrate com os estados e a política, pois para eles: “A liberdade de ensino não implicava, portanto, a liberdade de doutrina. P 50”. Na educação grega a homossexualidade e a pedofilia forma problemas muito presentes e esses aspectos faziam com que os filósofos entrassem em conflito com toda a sociedade. Entende-se que a justificativa da sociedade divida em classes está no auxilio que nós homens precisamos. Na moral ou no material, seja qual for nossa necessidade, origina-se a divisão do trabalho e, por conseqüência a distinção em classes.

Essa divisão representa um desenvolvimento social e uma sistematização estável da divisão do trabalho no âmbito de um estado ou da educação que aqui vem ao caso. Com a Revolução Francesa várias foram as mudanças na educação e nos pensamentos. As doutrinas liberais fizeram que a troca de mercadorias acarretasse o lucro. E a nova escola tinha o papel de formar indivíduos aptos para o mercado. Com isso gerou uma nova forma de economia mundial dando origem à burguesia e o proletariado. A burguesia não queria oferecer instrução ao povo, mas ao mesmo tempo não podia recusar, pois as máquinas revolucionárias exigiam mão de obra qualificada. Então se ofereceu uma educação elementar, já que não existia mais a servidão e o trabalhador passou a ser remunerado.Mas quero ressaltar – “O triunfo do Capitalismo sobre o Feudalismo apenas significou realmente triunfo do método de exploração burguesa sobre o de exploração feudal”.

Então por fazer parte do segmento da sociedade, a escola é divida em duas partes (Classes fundamentais) proletariado e a burguesia. A escola é um aparelho ideológico da burguesia e a serviço dos seus próprios interesses. Concluindo que, ao mesmo tempo que a escola procura amenizar a marginalização, ela por si só é um fator de marginalização relativa a cultura burguesa com relação à cultura proletária.

A função que se observa desta tradução é colocar uma teoria crítica da educação e dar para nós pedagogos substancia concreta de modo a evitar que ela seja articulada em nós com os interesses dominantes, e sim como fator de disseminar conhecimento. Observa-se ainda que a historia da educação acompanhou todas as trajetórias da evolução humana e mesmo da história política mundial.

Na Nova Educação ou na escola nova, tenta-se articular o ensino com o processo de desenvolvimento da ciência, já que no método tradicional articula-se o ensino como produto cientifico. Quando a burguesia acenava com a escola para todos, ela estava num período capaz de expressar os seus interesses abarcandos interesses das demais classes. Eram subjugada toda forma de tentar aprender das classes menos favorecidas. Na medida que essa classe cresce e tem inicio sua participação mais ativa, as camadas dominadas passaram a interagir no mesmo meio das dominantes dá-se inicio realmente a luta para garantir o desenvolvimento pessoal.

Luta de classes trata de uma síntese da História da Educação, embora não seja superficial, trata dos progressos, vantagens e desvantagens, suas contribuições e reflexões expostas ordenadas em teses de filósofos e outros pensadores.

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Referência:

PONCE, Aníbal. Educação e Luta de Classes/ Aníbal Ponce; tradução de Jose Severo de Camargo Pereira. 9ª ed. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1989.

*Texto apresentado à disciplina de LECS no segundo 2° de Ciências Sociais- UFMA.

Mais informações sobre a autora no Lattes

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