domingo, 10 de outubro de 2010

Observando as Igrejas

Por: Jesus Marmanillo Pereira*

A Baixa idade Média foi um período onde houve a germinação da modernidade e posteriormente da contemporaneidade. Até hoje o homem ainda hoje expressa ímpeto medieval , seja nos hábitos , na religiosidade ou na arquitetura. Um grande exemplo disso, pode ser observado na igreja Nossa Senhora do Remédios, que é praticamente um exemplo de estilo , arte e beleza gótica - esta mesma construída em 1719 localiza-se na praça Gonçalves Dias, sn no centro da cidade.


Introdução



O que se pretende neste breve texto é analisar às catedrais enquanto representação modelos arquitetónicos e de poder, mostrando a grande importância dessas para o entendimento da mentalidade religiosa medieval enquanto ordens , hierarquias e representações estruturais e arquitetónicas.

O presente estudo é importante na medida em que possibilita uma visão crítica e um entendimento a respeito da história e da arte expresso nas estruturas arquitetônicas edificadas nos diversos pontos da cidade, ou seja, fornece fundamento útil não só para a historiografia, mas também para outras áreas como arquitetura, engenharia civil e artes.

O trabalho se divide em duas partes , a primeira um breve resumo do Românico cujo o objetivo é possibilitar uma melhor contextualização da Segunda parte que é o estilo Gótico. Quanto o gótico são comentados apenas três exemplos : Saint Denis(ao lado) , Beauvis(1°lá de cima) e Notre Dame(acima), pressupondo que sejam as mais importantes e que forneçam características marcantes para o entendimento da história do do estilo gótico-classificação e entendimento do mesmo.


Românico

Segundo Marc Bloch “O feudalismo medieval nasceu no seio de uma época infinitamente perturbada” (BLOCH, 1939, p.19 ). É em meio a esse clima de confusão em que há a mistura dos elementos estruturais que configuraram uma sociedade com características próprias, pois esses tempos são marcados por invasões bárbaras e também pelo contato entre duas culturas diferentes. Ao longo do século X foi sendo estabelecida aos poucos uma espécie de ordem mais estável, caracterizada por uma imensa heterogeneidade cultural.

Foi nesse período, chamado por muitos historiadores de baixa idade Média, que surgiram os primeiros movimentos de reforma monástica. Nesse âmbito, os beneditinos de Cluny, na Borgonha, cristalizam o estilo românico, caracterizado por uma mistura de influências da arte mornanda, escandinava, Bizantina e Islâmica, desenvolvidas sobre os blocos romanos.

Atrelado ao movimento monástico, tem-se um desenvolvimento arquitetônico que visa um interesse estético, para através do mesmo representar uma igreja que se fortaleceu de forma organizada. “O grande estilo românico cristalizou-se de súbito, para tornar-se nas mãos dos monges, a mais pura expressão arquitetônica do cristianismo organizado ”(FAURE, 1990, p.190).

Um dos traços mais característicos da inovação românica é a preocupação com a articulação e ordenação do espaço, dessa forma as igrejas românicas se caracterizavam porpossuírem um sistema estrutural baseado em espessas paredes e abóbadas semicirculares localizadas logo abaixo do telhado , as paredes tinham que ser espessas e com poucas aberturas, pois resistiam tanto aos esforços verticais, quanto aos esforços horizontais gerados pelo vento, abóbadas e telhado. logo pode- se conferir uma função estrutural de sustentação as paredes das igrejas românicas. As poucas janelas formavam um ambiente pouco iluminado, pouco ventilado e com aspecto sombrio no interior dessas edificações, além de serem despojadas de decoração, apresentando – se de forma simples e robustas semelhante a uma fortaleza.


Toda essa simplicidade é explicada pelo fato de muitos monges não terem o direito de exprimirem outras formas e modelos. Dessa forma muitos monges se expressavam artisticamente por meio de pequenas formas (esculturas) colocadas nos pórticos das igrejas. Tal regra sinalizava um contexto de dominação e hierarquização de posições dentro da estrutura religiosa da época.

A Parte oriental da igreja se ordena segundo dois tipos de modelos concebidos na França : plano irradiante ( em Tourns e em Notre dame de la Couture em le Mansdatam dos primeiros anos do Século XI) e o plano escalonado ( Cluny ,datam de 981), ambos modelos visavam aumentar o numero de altares e capelas afim de melhorar o culto aos santos e facilitar a missas que estavam sendo feitas diariamente. É importante salientar que o estilo Românico não se comporta de modo homogêneo em todas as partes da Europa e o mesmo influenciou a foi influenciado atraves das grandes migrações que eram feitas pela Europa , como exemplo tem-se a forma exata , e maciça de catedrais Inglesas cujo a estrutura consistia em vãos separados por colunas que erguiam-se do chão até um teto inteiramente plano; perdendo assim a arte de projetar a abóbada ,um outro elemento importante para a futura arquitetura Européia é a fachada com duas torres ,esta foi utilizada pela primeira vez na Prussia ( Alemanha) do Século XI.

Desta forma se configurou uma Arquitetura que servirá de referência sendo esta mesma o primeiro passo para um estilo , novo que se distancie da realidade fria , sofrida e solitária dos mosteiros e que aos poucos se aproxime de realidade financeira , religiosa e mental da Idade Média .

Gótico

De acordo com a finalidade espiritual buscada no estilo gótico, as catedrais deveriam possuir elevadas alturas, grande luminosidade e uma plena continuidade entre o início de seus pilares e o cume de suas abóbadas. Segundo Faure (1990) a igreja saiu das velhas basílicas, hirta e robusta, e elevou para o céu, suas duas torres atarracadas vibrantes de sinos e que nem o vento abalava. Embora houvesse uma preocupação que vinha desde do românico com relação as torres, foi no estilo gótico que essas torres se elevaram a grandes alturas, podendo ser vistas a grandes distancias por viajantes. Estas mesmas nada mais eram que uma representação de riqueza e poder, construída por meio da relação entre bispos e burgueses que constituíam grupos que se rivalizavam na elaboração das mais belas igrejas.

Mesmo composto por varias características externas como o arco ogival, os contrafortes, o arcobotante e a abóbada nervurada, o estilo gótico caracterizou-se pela forma harmônica como combinou esses diferentes elementos, formando um tipo de arquitetura que possuía tanto vantagens estéticas, quanto vantagens técnicas, como por exemplo o próprio arco ogival, que permitiu aos projetistas maior verticalidade, os vãos retangulares, que distribuam de forma mais proporcional o peso das abóbadas, e os contrafortes, que possibilitavam paredes menos espessas e mais altas.

Desta forma, com esses elementos resistentes aos esforços horizontais colocados longe das paredes, estas não precisavam ser baixas e espessas (como nas catedrais românicas), possibilitando a presença de grande e belos vitrais (busca da grande luminosidade), grande altura e garantindo a plena continuidade da catedral, desde o início de seus pilares até o cume de suas abóbadas.

Dificilmente se falará em gótico sem citar o nome do abade Suger ([1]), apesar desse monge não pertencer a nobreza, era amigo de infância do rei de França, pessoa que lhe conferiu o ponto mais alto da autoridade política. A relação entre essas duas pessoas possui grande significado, principalmente naquele contexto, onde os reis franceses eram enterrados nas igrejas.

Abadia de Saint Denis teve sua terceira reconstrução iniciada em 1137, quando o abade Suger, o principal idealizador do estilo gótico, decidiu renovar os edifícios da abadia. Mantendo a cripta no estilo românico, a reconstrução da fachada ocidental foi completada em 1140 e, finalmente, o coro em 1144, marca o início do revolucionário estilo gótico. A Saint Denis, idealizada por Suger, possui precisamente abóbadas com 29 m de altura, nave central com 12,5 m de largura e comprimento de 108 m. Construída basicamente com alvenaria de pedra e com argamassa, tal arquitetura possibilitava uma luminosidade gerada por belos vitrais . Segundo Duby (1978, p.107),

“A poética da luz que a reflexão teologia de Suger contém em si e a estética que ela suscita não se resumem, porém a arquitetura, a irradiação divina parecia, aos religiosos do século XII, condensar-se em certos objectos religiosos privilegiados”



É impossível fechar uma discussão sobre o estilo gótico sem falar de Notre Dame, catedral caracterizada pela beleza das grandes alturas e também por problemas gerados por conta desses investimentos verticais, já que a maior elevação das estruturas dificultava o acesso da luz, que embora entrasse pelas janelas situadas na parte superior das paredes da catedral não chegava a atingir o chão. Quanto mais alta ficava sua estrutura, mais problemas eram encontrados, dentre eles a grande velocidade e pressão dos ventos.

Uma solução encontrada por mestres construtores e estudiosos da época foi a utilização de abóbadas ogivais, arcobotantes e contrafortes introduzidos em 1180. Esses novos elementos estruturais propiciaram paredes mais altas e resistiram aos esforços laterais gerados pelas abóbadas e pelo vento. Porém, frente a pequenas rachaduras, os construtores perceberam pontos falhos nesse esquema estrutural e, em 1220, modificaram a estrutura, além de terem introduzido escadarias ao lado dos corredores e galerias

Assim como Saint Denis, Beauvis foi construída primeiramente em estilo românico sendo depois reformada e adaptadas ao gótico. Localizada a 60 km ao norte de Paris foi conhecida como a Catedral Inacabada, pois, apesar de ser conhecida pela grandiosidade, também foi influenciada pela crise da cristandade que acarretou na paralisação de varias construções , segundo Le Goff (1995, 2°edit, p.142) :

“Em 1284, as abóbadas da catedral de Beauvis que se ergueram a quarenta e oito metros de altura, desabaram. O sonho gótico não iria mais alto. os estaleiros das catedrais paralisam: Narbonne em 1286, Colônia em 1322 e Cena em 1336 chegam ao limite de sua possibilidades ”

Se o contexto inicial de emergência do estilo gótico foi caracterizado pela ostentação e pelas disputas em torno da riqueza e poder, que envolviam bispos e burgueses, o momento de refluxo material da cristandade materializou-se na arquitetura gótica.



[1] é importante ressaltar sua ordem beneditina[1] não possuía uma concepção da vocação monástica de pobreza, ao contrario dos Franciscanos[1] que pregavam a pobreza e simplicidade.


Referência Bibliográfica


DUBY , GeorgesO Tempo das Catedrais, Edit. Estampa, Lisboa, Prt.1978

PEVSNER ,Nikolaus - Panorama da Arquitetura Ocidental , Edit. Martins Fontes 1982 SP

FAURE , Élie – A Arte Medieval , Edit. Martins Fontes ,1990 SP

BLOCH ,Marc – A Sociedade Feudal ,Edit. edições 70 , Lisboa 1970 Prt.

GOFF , Le – A Civilização do Ocidente Medieval , Edit. Estampa, Lisboa , Prt 1995


* Na epoca ( em 2003) era estudante de 3° periodo de História. O texto foi elaborado para adisciplina de História Medieval.

2 foi uma das primeiras ordens, fundada no século VI por São Bento

3 É bom ressaltar essa fragmentação da igreja católica em varias ordens , ou seja , não se deve Ter uma visão Homogênea de igreja na Idade Média

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