Por: Jesus Marmanillo Pereira
Assim
como para muitos colegas, a pergunta “por que estudar sociologia?” também me foi
colocada nas turmas onde entrei, quando iniciei a docência no nível médio em
2010. Como explicar isso para alunos cujas
ciências humanas foram limitadas nas disciplinas de História e Geografia por
longos anos? Longe de fornecer uma
explicação final, trarei aqui pelo menos três justificativas que considero
importantes. Trata-se de justificativas que foram buscadas na própria história
do ensino de sociologia no Brasil, em minha experiência cotidiana da época em
que lecionava no ensino médio, e na própria documentação produzida (Parâmetros
Curriculares Nacionais, Lei de Diretrizes e Bases) para orientar o ensino de
Sociologia.
1
- Aspectos históricos
Benjamin Constant e Augusto Comte |
Para quem pensa que a Sociologia é uma
disciplina recente que introduzida em 2008 no ensino médio, é importante enfatizar que ela foi
inserida nesse nível desde 1890, quando Benjamin Constant publicou o decreto
981/1890 que regulamentava o ensino primário e secundário no Distrito Federal(NEUHOLD,2013).
Naquele ano a disciplina passou a ser uma disciplina obrigatória, no ensino
secundário público e também no ensino militar.
Em 1901 a ela foi retirada das
grades curriculares, com a promulgação da Reforma Epitácio Pessoa. Vinte e
quatro anos depois, retornou por meio da Reforma Rocha Vaz, durante o
governo de Artur Bernardes. Já em 1931 a Reforma Francisco Campos faz com que a Sociologia voltasse para os quadros de matérias complementares destinadas ao
preparo dos alunos que desejavam ingressar nos cursos de nível superior. Essa
última mudança deixa clara a tendência cientifica e o papel exclusivo da
disciplina- para os poucos que tinham condições de investir na educação superior
(FLORÊNCIO, 2007).
Depois de 1930, ela penetrou no ensino
secundário e superior, começou a ser invocada como instrumento de análise
social, dando lugar ao aparecimento de um número apreciável de cultores
especializados, devendo-se notar que os primeiros brasileiros de formação
universitária sociológica adquirida no próprio país formaram-se em 1936(CÂNDIDO,
2006).
O Sociólogo Enno D. Liedke Filho,
explica que na década de 1930 houve o surgimento de uma sociologia de
cátedra, ou seja, quando alcançou as disciplinas universitárias e promoveu a
profissionalização da área, que até então era praticamente aberta para qualquer especialista que desejasse explicar a sociedade. Segundo ele a
institucionalização acadêmica da Sociologia no Brasil ocorreu em meados da
década de 1930, com a criação da Escola Livre de Sociologia e Política de São
Paulo (1933) e com a criação da Seção de Sociologia e Ciência Política da
Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (1934).
Durante
a ditadura militar em 1971, o governo determinou que a sociologia deixasse de
ser lecionada nas escolas. Trinta anos depois, o congresso aprovou o retorno da
disciplina nas escolas de nível médio, mas o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso - que era, inclusive, sociólogo pela Universidade de São Paulo- vetou a
aprovação, argumentando que não existia um contingente de professores para
suprir a demanda do ensino de sociologia, no nível médio. Em 2008, o presidente
em exercício, José de Alencar (Vice-presidente do Luís Inácio Lula da Silva)
sancionou a lei que garantia que a disciplina fosse obrigatória no ensino
médio, estabelecendo o prazo de três anos para que todas as escolas se
adequassem.
II
- Sociologia na Sala de aula
Uma
informação que necessita ser bastante divulgada é sobre a importância do
conhecimento sociológico para a compreensão e diálogo com as áreas de História
e Geografia. Tendo graduação e um pouco de experiência nessas áreas, uma coisa que sempre falei para os alunos do Colégio Liceu
Maranhense é que: 1) A compreensão da revolução francesa não é possível sem uma
interpretação sociológica da relação entre os três estados franceses, e 2) Pontos
como migração, geopolítica e demografia podem ser mais bem explicados em
relação aos temas de mobilidade social, estado, poder e identidade, elucidando
a importância da Sociologia como uma peça que integra todas as áreas das
Ciências Humanas.
Desde o final do século XIX a História e a
Geografia têm desenvolvido um diálogo intenso com a sociologia, resultando
disso uma ênfase cada vez maior dessas áreas sobre os componentes sociais e
humanos que interferem na construção de fatos históricos e mudanças nas
paisagens geográficas. Contudo, cabe a Sociologia uma atenção maior e mais
profunda sobre a análise da sociedade. Para o sociólogo as relações sociais, as
formas como as pessoas se associam são os verdadeiros protagonistas da história
e do espaço. Talvez por isso Karl Marx
percebeu a luta de classes como o “motor” da História, e não a história
como o motor da luta de classes.
III
- Sociologia na vida
Nas
leis de Diretrizes e Bases da educação (LDB
nº 9.394/96, Art. 36, § 1o, III) o conhecimento sociológico aparece como
relacionado ao exercício pleno da cidadania. Grosso modo, a Sociologia tende a ampliar a
visão de mundo dos alunos, fazendo com que se percebem dentro de algo maior,
como integrante de um todo social. A
compreensão de si próprio em relação ao grupo, possibilita refletir sobre
aspectos relacionados aos papeis sociais, a importância da interdependência e
divisão do trabalho.
Ao
se perceber a importância das instituições, ele poderá adquirir outra visão sobre
as regras e o sentimento de pertencimento. Por outro lado, essa
relação entre o individuo e sociedade também possibilita pensar outro caminho(os das mudanças sociais) para se refletir sobre a formação das instituições. Mas, seja qual for o caminho ( do individuo
integrado a algo maior, ou a de algo
maior sendo construído por indivíduos)
as relações sociais, as interdependências são sempre elementos comuns para qualquer sociólogo.
Sociologia Ilustrada |
A
sociologia possibilita a construção de uma visão (não compartimentada) sobre a
sociedade, possibilitando entender como ocorrem às relações entre diferentes
instituições, destacando rupturas e continuidades provenientes dos processos de
mudança. Por exemplo, compreender a importância da instituição familiar para as
instituições religiosas ou escolares. As
relações entre as instituições econômicas e políticas. Enfim,
trata-se de uma disciplina que forma cidadãos com uma compreensão sistemática de
sociedade que dialoga com outras áreas e formas de conhecimento. É possível
averiguar, mais detalhadamente, um conjunto de habilidades e competências da
Sociologia nos Parâmetros Curriculares
Nacionais das Ciências Humanas
Conclusão
Considerando
os aspectos históricos da Sociologia no Brasil, a experiência de docência na
disciplina que tive no Colégio Liceu Maranhense e algumas habilidades e
competências que ela possibilita ao aluno, é possível concluir que é uma disciplina
que foi marcado na história como resultado de várias reformas educacionais, que
não podemos esquecer que estavam vinculadas a determinados governos e atores
sociais. Trata-se de uma disciplina
especializada nos fenômenos sociais, e por conta, disso com mais aprofundamento
na compreensão do homem em suas relações cotidianas e extra cotidianas.
Enquanto
alguns intelectuais partem dos tempos históricos e as paisagens para
compreender a sociedade, o Sociólogo parte da própria sociedade e analisa como
suas ações deixam marcas no tempo e no espaço. Longe de esgotar todas as
possibilidades de evidência a cerca da importância do ensino de Sociologia, conclui-se,
sinteticamente, que essa disciplina possibilita uma compreensão e visualização
dos mecanismos fundamentais da sociedade, por isso, evidencia também
possibilidades de mudança a partir de situações sociais concretas observadas no
dia a dia. Por esse caminho é possível vislumbrar
a cidadania na prática.
Referência
CANDIDO, Antonio. “A
sociologia no Brasil”. In: Tempo Social. Revista de sociologia da USP, v. 18, no
1, 2006
NEUHOLD, Roberta dos Reis. Positivismo e
ensino de Sociologia: notas sobre as propostas de Benjamin Constant para o
ensino secundário e as escolas normais nos primeiros anos da República. Saberes
em Perspectiva, v. 3, p. 15-28,
2013.
LIEDKE FILHO, Enno D.. A Sociologia no
Brasil: história, teorias e desafios.Sociologias, Porto
Alegre , n. 14, p. 376-437, Dec. 2005
FLORÊNCIO, M. A. L.. A Sociologia no
Ensino Médio: a trajetória historica no Brasil e em Alagoas. In: PLANCHEREL,
Alice Anabuki; OLIVEIRA, Evelina Antunes F. de. (Org.). Leituras Sobre a
Sociologia no Ensino Médio. Maceió: EDUFAL, 2007, v. , p.