quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Observar e Descrever: Bronislaw Malinowski e o Fazer Antropológico

Por: Maron Sepetimio Ramos Neto e
Twaiwanderson Sousa da Silva*

       Sendo um dos principais expoentes da antropologia funcionalista, Malinowski defendeu que, todos os elementos de uma dada cultura – crenças, rituais, objetos e costumes – dispõe de funções e sentidos específicos dentro do sistema cultural em que se fazem presentes. 

       Na obra: Os argonautas do pacífico ocidental, publicada em 1922, Malinowski descreve, de forma objetiva, esse sistema cultural. Onde, segundo Laplantine (2003), cada pessoa possui um conjunto de precisões, cabendo à cultura, desenvolver diferentes maneiras de resolver as próprias necessidades, de forma coletiva, através das instituições.

       Na concepção de Malinowski, a sociedade é retratada como um corpo, que contém: um esqueleto, sendo este, a constituição tribal e os temas culturais,possuindo também, carne e sangue, representados na forma de dados da vida cotidiana e do comportamento comum, e por fim, o espírito – visões, opiniões e as expressões dos nativos. 

         Ainda nesse sentido, conforme descrevem Eriksen e Nielsen (2010),a respeito do funcionalismo de Malinowski, conhecido como biopsicológico,“as instituições sociais têm como função, satisfazer as necessidades biológicas dos indivíduos”. Logo, todas partes da sociedade, observadas por Malinowski, (esqueleto, carne, sangue e espírito) quando juntas, equivalem a uma “anatomia sociocultural” do espaço, sendo esta, o sustentáculo da vida tribal.

    Colocando-se no papel do leitor, Malinowski teve a preocupação de fazer com que nenhuma informação proveniente da análise da sociedade trobriand, emergissem de forma obscura. Para isso, pesquisou sobre a vida cotidiana dos nativos, utilizando de três fundamentos: 


  • Guiar-se por objetivos verdadeiramente científicos e conhecer as normas e critérios da etnografia moderna; 
  • Providenciar boas condições para seu trabalho, o que significa em termos gerais, viver efetivamente entre os nativos, longe de outros homens brancos – Pois estes, no parecer do autor, são “mentes destreinadas” pouco acostumada a formularem seus pensamentos com algum grau de consistência e precisão;
  • Recorrer a um certo número de métodos especiais de recolha, manipulando e registrando as suas provas – tabelas e cartas sinópticas.


    A partir desses fundamentos, podem ser observados os alicerces do fazer antropológico de Malinowski, destacando, sobretudo, a importância do segundo fundamento, considerado por ele, elementar para a pesquisa de campo. Em certo trecho da obra, o autor destaca: “o etnógrafo não tem apenas de lançar as redes no local certo e esperar que algo caia nelas. Tem de ser um caçador ativo e conduzir para lá a sua presa e segui-la até aos esconderijos mais inacessíveis”.

    Dessa forma, torna-se visível o conceito de observação participante, metodologia que busca o aperfeiçoamento do trabalho de campo, onde o observador convive com a coletividade por ele estudada (o “outro”) estando inserido em todas as atividades do dia a dia, no intuito de absorver toda a complexidade cultural da tribo.

      Tal conceito torna-se imprescindível para atividade em campo, pois, segundo Malinowski: “existem vários fenômenos de grande importância, que não podem ser recolhidos através de questionários ou de análise de documentos, mas, que tem de ser observados em pleno funcionamento. Chamemos-lhes os de imponderabilia da vida real”. Vale ressaltar que, para o autor, alguns traços íntimos (pormenores) da vida nativa, só são possíveis de serem identificados, após um contato prolongado com os mesmos.

     O autor ainda afirma que, faz parte do papel do etnógrafo, dar o seu melhor, no processo de “compreender a consciência do “outro”, entendendo a cultura e visão de mundo de uma determinada sociedade, a partir da ótica destes. Isso é, em essência, o método etnográfico, e Malinowski foi pioneiro nisso.

      Por fim, ainda é possível observar o funcionalismo de Malinowski no campo da antropologia visual. Onde o autor, espera que os registros visuais possam estabelecer relações, inter-relações, oposições de toda ordem. Para tanto, trabalhou com conjunto de fotografias, agrupando-as e tornando-as instrumentos necessários em suas obras, não apenas para ilustração, mas também como complemento para a compreensão da parte escrita de seus trabalhos;

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*Graduando em Comunicação Social – Jornalismo, na Universidade Federal do Maranhão


Referências Bibliográficas

EVERYTHING2 BRONISLAW MALINOWSKI (PERSON), Disponível em: <http://everything2.com/title/Bronislaw+Malinowski>. Acesso em 13 Setembro 2015.

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003.

ERIKSEN, Thomas Hylland; NIELSEN, Finn Sivert. História da Antropologia. Petrópolis/RJ: Vozes, 2010.


SAMAIN, Etienne. “Ver” e “Dizer” na tradição etnografia: Bronislaw Malinowski e a fotografia. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 1, n. 2, p. 23-60, jul./set. 1995 




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