Por: Eliane
Ramira Sousa Lopes*
Rodrigues, doutor e
livre-docência em Sociologia pela USP e titulação em Ciência Política pela
mesma instituição, desenvolveu em sua obra Mudanças na Classe Política
Brasileira uma análise sobre a composição socioprofissional na Câmara
dos Deputados (CD), ele tenta detectar sociologicamente as mudanças na Câmara
dos Deputados após os resultados das eleições de 1998 (51ª Legislatura) e de
2002 (52ª Legislatura), sua obra está estruturada em 6 (seis) capítulos, além
da apresentação e conclusão.
Combinando abordagens
quantitativas e qualitativas, o autor aponta as transformações na CD. Nesse
sentido, utiliza tabelas, apresentadas em todos os capítulos, com as quais
intenciona mostrar a origem dos políticos que passaram a ocupar a CD na 52ª
Legislatura em comparação com a 51ª Legislatura, e se propõe em analisar a
entrada de novas pessoas no cenário político.
Como ponto de partida
faz uma comparação da organização social da totalidade dos deputados eleitos na
51ª Legislatura com as da 52ª, para tanto, investiga a formação
socioprofissional das bancadas dos partidos nestas duas legislaturas, buscando
identificar as transformações nas fontes de recrutamento para entender se o
aumento ou diminuição quantitativo das legendas repercutiu no peso relativo dos
segmentos profissionais e ocupacionais no interior da CD.
Metodologicamente
priorizou a classificação dos deputados com base na última atividade profissional
ou ocupacional que eles obtinham antes do primeiro mandato, pois para
Rodrigues, conhecer a última atividade/ emprego seja privado ou público, o
permitiria identificar o status social deste político por
profissão. Para a realização do seu objetivo se utilizou dos perfis biográficos
existentes no site da Câmara dos Deputados.
No primeiro capítulo
são ressaltadas as mudanças partidárias na Câmara dos Deputados. O
autor sublinha as transformações partidárias entre a eleição de1998 e de 2002,
assim pôde perceber que nestas últimas eleições os partidos considerados de
centro obtiveram uma considerável diminuição, incidindo na perda do espaço
ocupado pelos partidos de “direita”. Já nas eleições de 1998 os partidos de
centro-direita, mais especificadamente a coligação PSDB – PFL (atual DEM) foram
os mais beneficiados com a numerosa vitória na Câmara de Deputados e com a
eleição de Fernando Henrique Cardoso. Entretanto, no ano de 2002 este quadro
reverteu-se, os partidos considerados de esquerda começaram a ganhar espaço
devido a falta de prestígio do governo anterior e ao contínuo crescimento
eleitoral do candidato Lula.
A partir desta
verificação, o autor busca conhecer as mudanças nas origens sociais dos
políticos e mostra o alavancamento da popularização da classe política
brasileira decorrente das eleições de 2002, realiza, portanto, uma sociografia
por meio de um levantamento da composição da Câmara dos Deputados e dos
partidos nela representados. Ele apresenta as modificações entre as duas
legislaturas por meio de várias tabelas, de início ele mostra uma tabela com
uma visão geral da diferença de representatividade das respectivas posições dos
partidos (direita, centro e esquerda), nas duas legislaturas.
No decorrer de sua
obra, se refere aos partidos os identificando como de direita, esquerda e
centro, porém, o autor não embasou claramente como se formou sua classificação
do pertencimento dos partidos em suas respectivas posições. Sua classificação
dos partidos correspondeu com o seguinte arranjo: Direita considerou- se: PFL
(atual DEM), PP (ex-PPB), PTB, PL, PSD, Prona, PSL e PSDC. De centro levou em
consideração: PMDB e PSDB. Por sua vez, os de esquerda ficaram o PT, PDT, PSDB,
PCdoB, PPS, PMN e PV.
No segundo capítulo,
Rodrigues destaca as profissões da profissão política, mostrando a
popularização da classe política, em que o poder das elites deixa de ser
maioria por meio de tabelas identifica o recrutamento das profissões oriundas
dos deputados com as respectivas mudanças e continuidades. Rodrigues toma como
ponto de referência a última atividade profissional ocupada pelo político.
Observa que o principal celeiro de políticos continua sendo o empresarial,
porém de forma reduzida, visto que outras profissões ganharam espaço neste
cenário político de 2002, como profissionais liberais, funcionários públicos e
o magistério (docentes universitários e docentes do ensino elementar público).
No terceiro capítulo
o autor apresenta as fontes secundárias de recrutamento político,
percebe que apesar de haver ocupações pouco numerosas no mercado de trabalho,
mas que são super-representadas nos organismos políticos. As profissões
secundárias observadas por ele, de relevância no poder legislativo, são os
comunicadores, os pastores, os políticos (estes agentes não
possuíam outra ocupação antes do cargo legislativo, assim o autor os denomina,
com certo exagero, de políticos, visto que sempre viveram no
cenário político).
Faz um
levantamento em que detecta profissões significativas que compõem a CD, observa
que há grande parte de profissionais comunicadores, que juntamente com os
professores, advogados, pastores e sindicalistas constituem a ala dos
profissionais da palavra e da escrita, que segundo o autor são atividades que
desenvolvem ou aprimoram a arte da oratória e do convencimento, essencial para
a ascensão na política. Observa que o número de deputados que integrou a
categoria de comunicadores na CD não é grande, embora bem elevado se comparado
ao número desses profissionais no mercado de trabalho.
A camada de pastores
merece destaque, pois cresceu consideravelmente na 52ª Legislatura, 2002, ele
aponta uma inclinação para duas igrejas protestantes, as quais somadas dão 80%,
a IURD (46%) e Assembléia de Deus (34%), observou que grande parte dos pastores
por profissão, principalmente da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) têm
vínculos com os meios de comunicação. Constatou que estas duas igrejas indicam
seus candidatos, porém a IURD possui um método próprio de fazer política, visto
que induz seus fiéis a votarem no “candidato oficial”, enquanto a Assembéia dar
liberdade aos seus fiéis a votarem em que desejarem.
Em relação ao quarto
capítulo ele se preocupa com os efeitos sociais da volatilidade
partidária, o qual identifica os perfis partidários e a diferenciação
social nas fontes de recrutamento indicam, ademais, ressalta que os meios de
origem influenciam, numa extensão difícil de medir, as opções individuais
quanto aos partidos escolhidos como porta de entrada na vida pública e,
posteriormente, para a continuidade política.
Destaca também que há
as profissões modernas em crescimento no espaço da Câmara, o autor as
identifica como economistas, sociólogos, geólogos, contadores, arquitetos e
assistentes sociais, vem das regiões mais desenvolvidas, maioria destes profissionais
se encontra no PT.
O quinto capítulo é
voltado ao sindicalistas na política, ressalta que a área
sindical proporciona benefícios aos trabalhadores e os leva a fazer carreira
sindicalista, por conseguinte, facilitou a porta de entrada destes profissionais para
a CD na 52ª legislatura. Este novo cenário reforçou o peso das camadas médias
assalariadas, contribuindo para reduzir o espaço ocupado pelos políticos que
vieram das classes proprietárias, dos homens de negócios, dos grupos de renda
elevadas e dos setores empresariais.
Segundo Rodrigues a
militância sindical foi essencial para levar pessoas sem outros recursos e
trunfos pessoais para uma instância importante do sistema político nacional, e
estes ex-sindicalistas em termos ideológicos contribuíram para o crescimento
dos partidos de esquerda, especialmente o PT nas eleições de 2002.
O sexto capítulo
intitulado veteranos e novatos: controlando a extensão da mudança, é
evidenciado que no Brasil é aparentemente fácil um candidato se eleger para a
CD sem primeiramente passar por qualquer cargo eletivo. O autor verificou que
em 2002 houve uma porcentagem de 42,3% de deputados que adentraram no cenário
político diretamente pela Câmara dos Deputados. E em se tratando de eleitos
deste ano de 2002, mas que não tinham sido eleitos em 1998, porém já tinham
sido deputados anteriormente, Rodrigues denomina- os de novos veteranos.
A maior parte da
renovação das bancadas na 52ª Legislatura se concentrou nos partidos de
esquerda, a esta ocorrência deve-se o fato de um significativo aumento de vaga
nesta bancada. É apresentado por tabelas o número em porcentagem de novos
candidatos e candidatos reeleitos para a CD.
A partir de suas
verificações o autor inferiu que a elevada rotatividade nas bancadas dos
partidos de esquerda tem a ver com as mudanças socioeconômica no corpo
parlamentar. O grande aumento de deputados que passou a ocupar a CD
nas eleições de 2002 proveram principalmente no espaço dos sindicatos, do setor
público, do magistério, dos pastores, os técnicos e o próprio meio político.
Rodrigues finaliza
enfatizando que a entrada de políticos originários das classes populares e
médias, além de poder ser interpretada como uma massificação da política, ou
seja, uma popularização da política, também pode ser vista como uma
democratização social de nossa vida política. Esclarecendo que a maior parte de
renovação, tendo significativo número de deputados oriundos de classe popular
foi concentrado na bancada de esquerda. E na luta para a ascensão política, os
candidatos utilizam os meios que dispõem.
Referência: RODRIGUES, Leôncio Martins. Mudanças na Classe Política Brasileira. São Paulo: Publifolha, 2006.
* Graduada em Ciências Sociais e mestranda pelo Programa de Pós graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão.
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