sábado, 24 de novembro de 2012

II Seminário de Antropologia da UFRR


 O seminário objetiva apresentar à comunidade acadêmica e à sociedade regional as possibilidades de contribuição da antropologia para os diversos campos do conhecimento e áreas sociais. Além de promover o debate acadêmico em torno dos temas focalizados pelos pesquisadores do Instituto de Antropologia e consolidar as parcerias internas e externas do mesmo.






PROGRAMAÇÃO

Data
Horário
Atividade
10 - segunda
17 às 19
Grupo de Trabalho estudantil

19 às 21
Mesa I: Antropologia e novos direitos
Coordenador: Carlos Cirino, UFRR

Convidados: 

Edson Damas da Silva, MPE;
Sergeui Aily de Camargo, UEA

21 às 22
Lançamento dos livros
A política da memória Sapará, de Olendina Cavalcante
Intersecção e gênero na Amazonia, Iraildes Caldas e Fabiane Vinente (organizadoras)
11 - terça
17 às 19
Grupo de Trabalho estudantil

19 às 21
Mesa II: Antropologia e políticas públicas de saúde: alguns aspectos sobre a ética em pesquisa
Coordenador: Marcos Pellegrini, UFRR
Convidados: Silvia Guimarães, UnB; Flávia Andrade, UnB; Calvino Camargo, UFRR

21 às 22
Apresentação Cia Lokombia e Teatro de Andanças
12 - quarta
17 às 19
Mesa III: Gênero na Amazonia: perspetivas e intersecções
Coordenadora: Olendina Cavalcante, UFRR
Convidadas: Iraildes Caldas, UFAM; Fabiane Vinente, FIOCRUZ

19 às 21
Mesa IV: Universo rural amazônico: novas abordagens e questões de pesquisa
Cordenadora: Marisa Luna, UFRR
Convidada: Delma Pessanha Neves, UFF/RJ

21 às 22
Feira de trocas e apresentação da Banda Macunaima do IBVM
13 - quinta
17 às 19
Mesa V: Antropologia, arte e movimentos culturais
Coordenador: José Carlos Franco, UFRR
Convidados: Desmond Alli, União dos Artistas Guianenses/Guyana; Licko Turle, Instituto Arte na Rua/RJ

19 às 21
Mesa V: Cartografias: propostas e práticas em debate
Coordenadora: Carmen Lúcia Lima, UFRR
Convidados: Representantes do Projeto Nova Cartografia Social da Amazonia; ISA - Instituto socioambiental, CIR, SEPLAN/RR, FUNAI/RR

21 às 22
Show de encerramento: Vozes da Amazônia

EXPOSIÇÕES: 

Fotografia: Cultura da Paz: um olhar fotográfico Imagens da Amazônia: um olhar a partir da antropologia visual Artes plásticas: Arte e Resistência
 

INSCRIÇÕES: Instituto de Antropologia – INAN: das 08:00 às 22:00h Contato : (95) 3621-3456
fonte:http://ufrr.br/noticias/1823


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Caminhos e verdades...


Ando a pé, com meus pés rachados e meu chapéu carregado de ideias

Acompanhando as sombras que me mostram a direção

E se há sombra é porque tenho força para combater o sol

Caminhando, lentamente, me integro na paisagem nativa.

Economizando cerimônias, vivo o dia a dia da maioria

Com fones no ouvido, tenho musica, sensações e alegrias

E caminhando entre pessoas, me pergunto:

Quem terá mais pressa para o isolamento?

O motorista que, rapidamente, corta realidades rumo aos centros de poder
Ou o caminhante, devagar, acenando as mãos e sempre atento?

Por: Marmanillo 22/112012

Ouça a poesia declamada por Roniel Sampaio Silva, clicando no link abaixo
Caminhos e Verdades


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Crise do Capital, lutas sociais e políticas públicas




Ouro de tolo

 Por: Jesus Marmanillo Pereira

Nesses tempos de corrida no mercado de trabalho, emerge a nova família brasileira. Aquela que, assim como a globalização do mercado, rompe com as distâncias e se espalha por territórios longínquos. Creio que estejamos nos tempos em que a sobrevivência é um principio maior que todas as instituições sociais construídas historicamente. Mas!.... de que tipo de sobrevivência estamos falando ?  Como estamos conseguindo sobreviver, nos quatro cantos desse imenso país?

Não posso responder por todos, mas imagino que o papel da “lembrança” nunca teve tanta importância nesses tempos de corrida pela sobrevivência. Esse aspecto é um dos únicos que me garante que a família não seja apenas uma empresa de capacitação que, todos os anos, lança no mercado milhares de jovens por esse mundo a fora. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o professor Mauro Guilherme Koury* ressalta  que o isolamento dos homens, durante a fase mais produtiva de suas carreiras profissionais, está associada à busca do reconhecimento profissional e conquista do mercado de trabalho.

Nessa odisséia contemporânea, o Ulisses contemporâneo trilha seu caminho solitário lutando contra uma mitologia interna, repleta de monstros, medos e desejo de gloria, de forma que os heróis parecem ter sido convertidos em produtores, lutando contra um obstáculo maior caracterizado numa idéia de necessidade e sobrevivência. Mas uma vez, é necessário questionar esse tipo de sobrevivência e que necessidades ela representa? [1]

Sobre esse assunto, Abraham Maslow discorre que o ser humano possuiria um comportamento explicado de acordo com cinco necessidades relacionadas ao atendimento de: 1)necessidades básicas ou fisiológicas, 2)segurança, 3) sociais ou de associação, 4) Status ou Auto-estima, e 5) Auto-realização.  No senso comum cotidiano, percebo inúmeras tentativas de valorização extrema das necessidades básicas, do Status e auto-realização, buscando por meio dessas, compensar as necessidades de associação e segurança. Talvez isso seja um indicativo da importância das “lembranças” no preenchimento de lacunas sociais fundamentais para a construção social do homem.



Não por acaso, a associação que pode ser considerada o embrião de instituições importantes como: família, sindicatos, igrejas etc. tende a ser desvalorizada no caminho egoíco por um objetivo final caracterizando numa auto-realização desequilibrada e compensatória cuja dimensão social parece ter sido reduzida às “lembranças”.
  
Nessa busca pela auto-realização, Mauro Guilherme Koury percebe que a ideia que paira a sociabilidade contemporânea é a de que “os outros só contam quando úteis a determinado projeto”. Nesse sentido, pensamento utilitarista tão criticado por Emile Durkheim parece afrontar e convidar um conjunto de sociólogos para se debruçar sobre os novos tipos de relações e de instituições que são produzidas.

Mais que apontar a sobreposição de uma lógica econômica que penetra as bases organizacionais e culturais de uma sociedade, um desafio é buscar e criticar os mecanismos de reprodução desse pensamento utilitarista que distribui pessoas como mercadorias, mundo a fora. Será possível sobrevivência do indivíduo a custa do sacrifício de instituições tão valiosas para a humanidade? Para onde se quer ir, caminhando solitariamente?


Tal situação me faz recordar do problema do transporte urbano na cidade de São Luís. Uma solução quase unanime comentada entre muitos usuários era a compra individualiza do carro próprio para escapar do desconforto característico dos ônibus cheios, com pouca ventilação e segurança. O resultado dessas ações individualizadas foi que nos últimos sete anos a frota subiu de 168.900 para 300.063[2], deixando as ruas intrafegáveis tanto para veículos coletivos quanto individuais. Esse é apenas um exemplo, entre outros tantos, em que as pessoas buscam soluções individualizadas que reafirmam determinados status ou imagem de auto-realização.

Talvez, mais que em qualquer outro momento, necessitamos reanimar grupos estudantis, associações,clubes de mães, conselhos populares e quaisquer iniciativas coletivas que possam de alguma maneira, combater as inúmeras manifestações utilitaristas e individualistas no âmbito da educação, da família, direitos sociais, laços de amizade e na cultura. Talvez precisemos falar pelo passado e pelas futuras gerações tão obscurecidos pelas necessidades imediatas.

Para terminar a postagem, deixo uma sugestão, bem lembrada, de meu amigo Roniel Sampaio Silva:










[1] Se fosse responder isso, nesse exato momento, diria que a energia que acabou de faltar seria uma necessidade básica para a nossa comunicação por meio desse texto.
[2] http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2012/10/frota-de-veiculos-em-sao-luis-ultrapassa-300-mil-veiculos.html
*http://manguevirtual.blogspot.com.br/2012/10/entrevistado-professor-mauro-koury.html

sábado, 10 de novembro de 2012

INSCRIÇÕES PRORROGADAS: I Seminário Internacional Sociedades e Fronteiras


A Comissão Organizadora do “I Seminário Internacional Sociedade e Fronteiras: As Fronteiras da Interdisciplinaridade e a Interdisciplinaridade das Fronteiras” prorrogou até o dia 17 de novembro o prazo para envio de resumos de trabalho para Seminário Temático. 


Serão aceitos trabalhos que contribuam na perspectiva do diálogo sobre Interdisciplinaridade, Fronteiras e Sociedades Fronteiriças, fomentando a produção do conhecimento teórico e metodológico sobre os fenômenos que envolvem a questão, em especial na Amazônia e suas múltiplas fronteiras.


Podem ser inscritos trabalhos de diversas áreas do conhecimento (Ciências Humanas, Ciências Sociais, Ciências Biológicas, Ciências Agrárias, Ciências da Saúde, Linguística, Letras e Artes, Educação, entre outras) que versem sobre temáticas, tais como: políticas públicas, cooperação e desenvolvimento, política partidária, relações internacionais, populações tradicionais, povos indígenas, movimentos sociais, gestão ambiental e territorial; conflitos fronteiriços, ilícitos transnacionais, direitos humanos, questão agrária, recursos naturais e energéticos, deslocamentos populacionais, processos identitários e culturais,dinâmicas socioespaciais no contexto rural e urbano, representações e imaginários coletivos, dentre outros temas.


Os interessados em submeter resumos de trabalhos para apresentação oral e/ou aqueles que queiram participar como ouvintes podem acessar os referidos formulários nas páginas www.ufrr.br/ppgsof e www.ufrr.br, ou ligar para o telefone 3623-4489. 


A Comissão informa que a taxa de inscrição será 01 (um) Kg de alimento não perecível a ser entregue na Coordenação do PPGSOF, até o dia 04/12/2012, os participantes receberão certificado.


Seminário- O “I Seminário Internacional Sociedade e Fronteiras: As Fronteiras da Interdisciplinaridade e a Interdisciplinaridade das Fronteiras”, será realizado no período de 04 a 07 de dezembro, no Auditório Professor Alexandre Borges, campus Paricarana. 

O evento vinculado ao PPGSOF, visa articular os debates sobre Interdisciplinaridade e Fronteiras na Amazônia e em outras regiões fronteiriças, bem como fomentar uma reflexão que potencialize a permanente formação de recursos humanos capazes de analisar e promover mudanças efetivas por melhores condições de vidas das populações fronteiriças, contribuindo, assim, com o desenvolvimento humano.




Prazos:

Submissão de resumos:  19/10 a 17/11/2012
Divulgação dos trabalhos aceitos: 17/11/2012
Envio de trabalho completo:  21/ a 30/11/2012
Inscrição como expositor e ouvinte 12 a 30/11/2012 e  de 30 a 04/12/2012
Realização do evento: de 4 a 7 de dezembro de 2012

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terça-feira, 6 de novembro de 2012

PUBLICADA A REA 138, novembro de 2012



LEIA NESTA EDIÇÃO 

DOSSIÊ - Comunicação Corporativa e Sociedade (Org.: Renato Bittencourt) e outros textos. Acesse:
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/current

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Trabalho imaterial: formas de vida e produção de subjetividade




Por:Raíssa Moreira Lima Mendes*

O livro está dividido em cinco capítulos e possui elucidativa introdução de Giuseppe Cocco, de onde se extrai que os primeiros quatro capítulos foram escritos por Lazzarato, em sua maioria escritos no âmbito do debate francês sobre reestruturação produtiva, crise do fordismo e transformações do trabalho. Ressalte-se a participação de Negrio no primeiro e mais importante destes. Já no quinto capítulo, Lazzarato reivindica a linha teórica a respeito do trabalho imaterial e o diálogo com outros autores italianos sobre a referida temática.
O primeiro capítulo, Trabalho imaterial e subjetividade, publicado em 1991, traz a subjetividade como carro chefe do trabalho intelectual, cujo ítem Na direção da hegemonia do trabalho imaterial, advindo como variante do modelo pós-fordista, de onde se extrai que a integração do trabalho imaterial no industrial e terciário torna-se a principal fonte de produção e atravessa os ciclos de produção definidos precedentemente. O item, Intelectualidade de massa e nova subjetividade, os autores afirmam que quando o trabalho imaterial é reconhecido como base fundamental da produção, este processo não investe somente a produção mas a forma inteira do ciclo “reprodução e consumo”. O trabalho imaterial não se reproduz na forma de exploração, mas na forma de reprodução da subjetividade.
Já nos itens, Ecos filosóficos da nova definição de trabalho e Novos antagonismos na sociedade pós-industrial, Intelectualidade, poder e comunicação, os autores apontam que a transformação das condições gerais de produção, que agora incluem a participação ativa dos sujeitos, consideram o General Intellect como capital fico sujeitado à produção, e que toma como base objetiva a sociedade inteira e sua ordem, determinando uma modificação das formas de poder. E conclui que o intelectual está nesta fase, em completa adequação aos objetivos da libertação: novo sujeito, poder constituinte, potência do comunismo.
No segundo capítulo, O ciclo da produção imaterial, publicado em 1993, Lazaratto tenta apontar características da fase pós-tayloristas que ainda não foram apontadas, confrontando-as com a produção da grande indústria e dos serviços. Deste confronto, extrai a afirmação de que seria o trabalho imaterial fonte de inovação contínua das formas e condições da comunicação, e, portanto, do trabalho e do consumo. Produzindo acima de tudo uma relação social de inovação, produção e consumo e diante desta reprodução sua atividade tem valor econômico, onde o trabalho não produz apenas mercadorias, mas acima de tudo a relação de capital. Assim sendo, aponta que a “matéria-prima” do trabalho imaterial é a subjetividade e o “ambiente ecológico” no qual esta subjetividade vive e se reproduz e ainda, que os trabalhadores imateriais (segundo os autores, aqueles que trabalham na publicidade, moda, marketing, televisão, informática, etc.) satisfariam uma demanda do consumidor e ao mesmo tempo a constituiriam.
No item, O modelo estético, o autor se pergunta qual o papel do trabalho imaterial na capacidade de consumo e na comunicação. E no item seguinte, As diferenças específicas do ciclo do trabalho imaterial, aponta que o público tende a tornar-se o próprio modelo do consumidor (público/cliente), e que sçao as formas de vida que constituem a fonte de inovação. Restando ao econômico a possibilidade de gerir e regular a atividade do trabalho imaterial e de criar dispositivos de controle da tecnologia de informação e comunicação e de seus processos organizativos.
No item Criação e trabalho imaterial, o autor coloca em discussão o modelo de criação e difusão do trabelho intelectual e a superação do conceito de criatividade como expressão de “individualidade” ou como patrimônio das classes “superiores”, analisando dois modos de demonstrar a relação entre trabalho imaterial e sociedade, o de Simmel e a criatividade do trabalho intelectual e o de Bachtin com a teoria da criatividade social.
Já o terceiro capítulo, sobre Estratégias do empreendedor político, de 1994, neste, o autor aborda as formas de governabilidade da nova configuração capitalista, destacando que na figura de Berlusconi na se poderia distinguir o empreendedor, o patrão da mídia e o homem político.
Em Benetton e os fluxos, reporta-se à experiência empresarial italiana constituída longe da mídia, sobre controle dos fluxos de trabalho, consumo, comunicação e desejo, a qual denomina de “anomalia” empresarial, a Benetton.
No item sobre Os fluxos de trabalho, a respeito disso, ainda tomando a Benetton como referência, propõe a tese de que se não se vê mais a fábrica não é porque desapareceu, mas porque se socializou, e neste sentido tornou-se imaterial, de uma imaterialidade que continua assim mesmo a produzir relações sociais, valores, lucros
A respeito do item Redes de comercialização, Lazzarato explica a organização daquela empresa segundo o método franchising, que preza a gestão social e política das redes através da “marca”, mais do que de vínculos diretos, disciplinares ou administrativos. Sobre o item Fluxo de desejo, de consumo e produção da subjetividade, aqui, o autor afirma que na empresa pós-fordista a produtividade da publicidade encontra a sua razão de ser econômica não tanto na venda, mas na “produção de subjetividade”, sendo que a publicidade não serviria somente para informar sobre o mercado e sim para construí-lo, interagindo com o consumidor não só quanto às suas necessidades, mas, sobretudo aos seus desejos, sendo necessário conhecer e solicitar a ideologia, estilo de vida e concepção de mundo do consumidor.
O empresário político e o Estado, item onde o autor discute a televisão e a afirmação eleitoral de Berlusconi que para o autor é um fluxo de imagens e de sons diretamente conexo com as redes produtivas. Sendo que esta nova máquina teria funcionado como dispositivo de captura das novas forças e de suas formas de expressão, para reconduzi-las ao Estado.
O quarto capítulo, denominado O “trabalho”: um novo debate para velhas alternativas, sem data indicada de publicação, Lazzarato debruça-se sobre a crítica a Marx, supondo que em Marx o conceito de “produção” é um conceito metaeconômico, e que a “descoberta” científica de Marx diz respeito ao conceito de “trabalho vivo” (sujeito vivente que é presente no tempo e não no espaço) e de “força de trabalho”, não limitando-se ao “trabalho”. Supõe ainda o autor que não existe razão para identificar o capitalismo com a produção industrial e a exploração com o “pôr ao trabalho” a classe operária. Por último, tenta demonstrar que se existe um “economicismo” em Marx isto deve ser superado como uma radicalização da categoria de “trabalho vivo” como categoria ontológica e constitutiva. Neste capítulo, nos aportes para a crítica com quem o autor vai debater encontram-se Habernas, Arendt, Krahl, entre outros.
E por fim, o quinto e último capítulo Trabalho autônomo, produção por meio de linguagem e General Intellect, o autor tenta determinar o “lugar comum”, pressuposto a que as teses apresentadas no capitulo tendem. No item O trabalho autônomo, referindo-se às pesquisas sobre trabalho autônomo de Sérgio Bologna, o autor discorre sobre os debates a respeito do mesmo e das mudanças substanciais entre o trabalho autônomo pré e pós-fordista. Assim, para o autor, a nova qualidade do trabalho autônomo possui uma grande capacidade de cooperação, de gestão, de inovação organizativa e comercial e possui capacidade “empreendedora”.
Já o ítem Produção de mercadorias por meio de linguagem – traz a idéia de dimensão “biopolítica”, que seria a dimensão coletiva, social, intelectual do trabalho pós-fordista. Onde a subsunção da comunidade na lógica capitalista é a subsunção de elementos lingüísticos, políticos, relacionais, sexuais que a definem, sendo este processo complementarmente visível e realizado na economia da informação, onde é posto ao trabalho aquilo que é mais comum aos homens, para o autor, a linguagem e a comunicação.
No item específico O General Intellect, - “intelectualidade de massa”, os paradoxos que determina e como é enfrentada nos trabalhos de Paolo Virno, discutindo a pragmática do “ato de pôr-em-prática”, que, segundo Lazzarato, não é privilégio exclusivo da língua. Todos os outros componentes semióticos, todo o produzir de codificações naturais e maquinais concorrem, em seu ver, para isso. Diz ainda que a abertura a outros regimes de semiotização seria um problema político. Em vias de conclusão, aponta que o avanço da pesquisa a respeito do trabalho imaterial se determinará por uma primeira antecipação de uma possível recomposição/singularização da nova natureza das relações sociais.


Lazzarato, Maurizzo e Negri, Antônio: Trabalho imaterial: formas de vida e produção de subjetividade, Rio de Janeiro - RJ, 2001, DP&A editora.

*Raíssa Moreira Lima Mendes é doutoranda em Ciências Sociais - Sociologia pelo programa de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará - PPGCS-UFPA. Mestre em Ciências Sociais (Sociologia e Antropologia) pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais PPGCSoc-UFMA (2011). Pós-graduada em Direito Público pela Universidade Gama Filho - RJ (2009). Advogada, graduada em Direito pela Faculdade Santa Terezinha - Cest (2007). Desenvolve pesquisas sobre desenvolvimento na Amazônia brasileira, populações tradicionais, patrimônio cultural, artesanato tradicional, carpintaria naval, ambiente, territórios emergentes e direitos culturais. Tem como foco de sua pesquisa os usos sociais da natureza e gestão de recursos naturais.



segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O bunker provinciano



Por: Andrei de Albuquerque*

Pois o pensamento doentio devora a carne do corpo mais do que a febre ou a tuberculose
Guy de Maupassant

                  O atual momento de esplendor econômico tupiniquim infla o peito e envaidece; gera, também, o sentimento de uma suposta grandiosidade secular que permanecia adormecida, mas que agora ganha vigor e concretude.Natural que a “brasileirada” e seu subgrupo, o povo da terra do saroio, confundam avanço econômico e estrutural com desenvolvimento educacional e humanístico. E no afã pela concretização dessa  suposta grandiosidade –– mais futebolística e econômica que de outra ordem –– fica um povo reduzido ao que Tobias Barreto denominou de “estado de mendicidade espiritual”, referindo-se ao atraso cultural tupiniquim.

                     Praias encantadoras e coqueiros verdejantes servem de aprazível cenário para a débil mentalidade tropical que despreza a elevação cultural, mas que alimenta o ranço de republiqueta exportadora de produtos primários, permanecendo, porém, aquém dos países verdadeiramente desenvolvidos. Em vários ensaios o grande jurista e filósofo da terra do saroio, Tobias Barreto, emitia, em tom de desabafo, suas impressões sobre o atávico atraso nacional; em um ensaio filosófico intitulado “ Sobre a filosofia do inconsciente” abre espaço para uma diatribe que diverge do tema, dizendo: “ O Brasil padece de uma espécie de prisão de cérebro: tem peçonha no miolo. É preciso sujeitar-se  à dolorosa operação de crítica de si mesmo, do desapego, do desdém, e até do asco de si mesmo, a fim de conseguir uma cura radical.” Além do desabafo raivoso, há a importante observação de Tobias Barreto para a necessidade de elaboração histórica e cultural como passo fundamental para o desenvolvimento de uma nação; indica ainda que o mal-estar cultural não deve ser negligenciado nem varrido para debaixo do tapete da história. Tobias e Sílvio Romero, polemistas irascíveis, lutavam –– eivados de preceitos positivistas –– contra a intelectualidade tropical “festiva” que proclamava a grandiosidade nacional; um exemplo se dá quando Tobias Barreto, em outro ensaio, defende o livro “ A filosofia no Brasil”, de Sílvio Romero, contra as posições do crítico Sousa Bandeira Filho que julgava desnecessário debater questões referentes ao atraso nacional. 
                Talvez Tobias Barreto e Sílvio Romero, como intelectuais oriundos da província mais remota e isolada, tenham  observado que o atraso pronvinciano seria corolário do retardo nacional. Contudo, suas biografias e polêmicas indicam que ambos, provavelmente, acreditavam que determinada modernização, ancorada em preceitos positivistas, poderia tornar o país grandioso.O isolamento permite certa distância que facilita a observação de um fato, porque dificilmente se pode tomar uma opinião mais consistente quando se está imerso em determinado acontecimento. Desse modo, o isolamento próprio ao microcosmo da província gera certo ceticismo ou um preciosismo inconteste que se regala no “ narcisismo das pequenas diferenças”, exaltando as características locais de  modo irreal; –– por exemplo, na terra do saroio,  há a repetição a torto e a direito da falaciosa qualidade de vida de sua capital.
         
              A mentalidade provinciana entende sua cultura como produto exótico a ser explorado pelo turismo ligeiro ao invés de considerá-la fato consistente para o desenvolvimento de seu povo. Outrossim, a mentalidade provinciana entende as artes no plano do diletantismo, do amadorismo, ou como apanágio da história local que sempre deve ser enaltecida. O fascínio provinciano é captado pelo progresso meramente estrutural, pelos títulos, pelo “ discurso de bacharel”, pela designação de doutor que tanto inebria o brasileiro. Machado de Assis aborda esse fascínio tropical pelos títulos e honrarias em “ Teoria do medalhão”; pequena narrativa na qual descreve um pai que ensina o filho a se dar bem na vida, cultivando a bajulação e a falta de originalidade; orienta, ainda, que evite ter ideias, pois elas podem se tornar um obstáculo à ascensão social. Nesse sentido, o crítico literário sergipano João Ribeiro –– em um ensaio sobre um romance de Lima Barreto –– declarou, em meados do século passado, que o Brasil era o país do “arrivismo” e do culto à falta de originalidade –– meios úteis para se alcançar o triunfo nos trópicos. 
              Algo de sumamente revelador, acerca do caráter tropical e provinciano, é delineado nessa curta narrativa machadiana; nela está descrita a mesquinhez provinciana ante o incentivo ao novo e à inventividade característica de nações avançadas; também nela está descrito o encantamento por títulos, cargos etc. Nelson Rodrigues  insistia no júbilo que o brasileiro sente ao ser chamado de doutor ––  êxtase da ordem de um título nobiliárquico. Possivelmente o que Nelson e Machado apontavam no caráter tropical seja visível, e risível, no microcosmo  provinciano onde há a notória patetice das aspirações medianas que sufocam a inventividade. O “ estado de mendicidade espiritual” tupiniquim encontra no isolamento –– próprio ao rincão do saroio –– matizes mais acentuados
                Esse “ estado mendicidade espiritual” proporciona espaço a um ímpeto desenvolvimentista apenas atrelado à forma e ao avanço estrutural, desdenhando a consideração pelo avanço educacional e humanístico.  O sentimento de grandiosidade que infla o peito e  o orgulho da  “brasileirada” acolhe bem esse ímpeto desenvolvimentista. 
                  Porém, Tobias Barreto, o caga-raiva genial, apontou a necessidade de elaboração do atraso cultural que vai além do mero ataque à produção cultural local como forma de escárnio –– ataque que mascara certo revanchismo falhado, frustrado. Talvez a “ cura radical”, proposta por Tobias Barreto, seja possível pelo ato de digerir tradições e “maldições indígenas” em novas produções culturais, evitando o perigoso e imbecilizante desconhecimento de lacunas e mazelas na história de um povo.


*psicanalista, psicólogo, membro do Instituto Freudiano de psicanálise (IFP- SE), coordenador no Grupo Despertar(DESO) de dependência química, colunista do Cinform Online (site) de julho de 2010 a dezembro de 2011.